O Grande Gatsby e o mito do 'self-made man'
- Andressa Gomes
- 27 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de jul.
Jay Gatbsy realmente foi a idealização de um homem bem sucedido, ou self-made man? Uma análise do filme, do contexto dos "loucos anos 20" estadunidenses e da interpretação de Leonardo DiCaprio.
Contém spoilers
Os “loucos anos 20” marcaram a história dos Estados Unidos. Os cinco sentidos humanos foram aflorados pelo jazz, tabaco e requinte. A euforia do American Way of Life mostra os primeiros sinais através de uma cultura urbana tão precoce, mas solidamente consumista. Dentro desse caldeirão fervente, o ideal de self-made man — aquele que alcança o prestígio por esforço próprio — se torna a ambição de quem busca o sucesso.
Nesse período, a história estadunidense passa por uma controvérsia de valores morais: de um lado, um governo republicano que implora pelo conservadorismo ao implementar uma Lei Seca natimorta. De outro, uma sociedade jovem, herdeira do old money e com disposição para viver em um hedonismo eterno. No meio desse cenário, está a história de “O Grande Gatsby” (2013).

“O Grande Gatsby” é uma adaptação de um livro homônimo datado de 1925. O filme é assinado por Baz Luhrmann, que fez um trabalho impecável ao retratar a sociedade dos roaring twenties com pinceladas de contemporaneidade. O longa-metragem consegue ser autêntico mesmo se tratando de uma adaptação, e conquistou o Oscar de Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino. Atualmente, o filme está disponível na plataforma de streaming HBO Max.
A narrativa traz Nick Carraway (Tobey Maguire), um jovem do meio-oeste norte-americano que vai à Nova York na efervescência dos anos 1920, em busca de emprego. Nisso, Nick passa a morar em uma região dividida entre os velhos e novos ricos, e é onde conhece Jay Gatbsy (Leonardo DiCaprio), a grande estrela do filme. A partir disso, Gatbsy infiltra Nick no mundo luxuoso e problemático dos ricos.

Quem é Jay Gatsby?
Gatbsy é a personificação do self-made man. Nascido de uma família pobre, ele vai em busca do próprio sucesso, até se tornar um magnata que esbanja a materialidade do consumo. Gatsby parece ter tudo, mas se sente vazio pela falta do grande amor, Daisy Buchanan, de quem foi amante em uma época em que os bolsos faziam eco. Mesmo após enriquecer, Gatsby não consegue o maior bem impagável, que agora é casada com outro homem — mais especificamente, Tom Buchanan, por quem constrói desavenças explicáveis.
O suspense do filme é arquitetado através da origem do tesouro de Jay Gatsby. Centenas de pessoas frequentam suas festas regadas a bebidas alcoólicas e extravagâncias, mas nenhuma conhece o segredo do magnata, que é guardado a sete chaves. Esse fato acende uma curiosidade em Tom, marido de Daisy. Afinal, o que é preciso fazer para ficar rico pelo próprio esforço?

A investigação obsessiva de Tom chega a um resultado. Buchanan descobre que Jay Gatbsy viu a Lei Seca como uma oportunidade de enriquecer através do contrabando de bebidas alcoólicas. Com isso, a legitimidade da fortuna de Gatsby cai por terra, assim como sua figura de homem bem sucedido através do trabalho virtuoso. É do fracasso de uma lei que se encontra o fracasso de um self-made man.
Nesse momento, todos que antes eram frequentadores assíduos das festanças de Gatsby, agora assumem um conservadorismo desgostoso. A moralidade duvidosa da alta classe provoca uma distância dos outros em relação a Jay. O choque de realidade é tão forte, que ele se transforma em uma bala no peito de Gatbsy, que morre em meio à sua fortuna em ruínas. Um homem, anteriormente rodeado por pessoas e admirado por muitos, agora morre sozinho, insignificante. E o self-made man morre de mãos dadas a ele.

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Originalmente publicado em Medium.
*Texto adaptado de um artigo escrito em 2021 para a disciplina “História da América Contemporânea”, do curso de História — UFRJ.
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