Filmes para conhecer o cinema norueguês contemporâneo
- Rebobinadas

- 22 de jul.
- 9 min de leitura
Com narrativas que retratam aspectos dos dias atuais e conquistam corações jovens, as produções da Noruega ganham mais destaque a cada festival e lançamento no streaming. Confira a lista de seleções!
O cinema tem o poder de nos transportar para diferentes realidades, e nos últimos anos, o cinema norueguês contemporâneo tem se destacado como um fenômeno global. Filmes produzidos na Noruega têm ganhado uma visibilidade crescente e alcançado reconhecimento internacional, sendo selecionados para festivais importantes, como Cannes e Toronto.
Essa ascensão demonstra que, embora o país seja frequentemente associado a paisagens deslumbrantes, sua produção cinematográfica vai muito além de cenários pitorescos, explorando a complexidade da vida moderna e sentimentos universais que ressoam com públicos de todas as idades.
O que é o cinema norueguês contemporâneo?
O cinema norueguês contemporâneo se distingue por suas narrativas autorais e experimentais, que muitas vezes apresentam personagens complexos e multifacetados. Essa abordagem busca uma maior fidelidade à ideia de vida real, com finais frequentemente abertos, e reflete sobre a própria natureza da arte e seu papel social.
Há uma forte inclinação para abordar sentimentos internos da população jovem, como a crise dos vinte e poucos anos e dilemas existenciais, de forma crua e autêntica, o que gera uma conexão profunda com o público que busca filmes com temáticas atuais.
Entre os nomes mais proeminentes que impulsionam essa onda está Joachim Trier, conhecido por sua aclamada "Trilogia de Oslo". Seus filmes exploram temas como vício, solidão, autodescoberta e as incertezas da vida adulta, capturando as complexidades da condição humana. Curiosamente, Joachim Trier é um parente distante do polêmico diretor Lars von Trier, embora suas obras sigam caminhos independentes.

Outro diretor que tem se destacado é Dag Johan Haugerud, especialmente com sua trilogia “Sex, Love, Dreams", que explora a complexidade da intimidade, sexualidade e identidade de forma sutil e com diálogos perspicazes. No elenco, atores como Anders Danielsen Lie, presente em todos os filmes da Trilogia de Oslo, e Herbert Nordrum, que se destacou em "A Pior Pessoa do Mundo" e "A Hipnose", são rostos recorrentes que contribuem para a identidade desse cinema.
A indústria cinematográfica norueguesa tem experimentado um período de grande prosperidade na última década, produzindo cerca de 35 filmes por ano. Esse crescimento é incentivado pelo Instituto Norueguês de Cinema (Norsk Filminstitutt), uma agência governamental que fomenta a produção nacional. O sucesso de diretores como Joachim Trier em festivais globais e a venda de filmes para dezenas de países demonstram o alcance internacional que o cinema noruguês contemporâneo tem conquistado.
Além disso, a popularização do streaming tem sido um fator crucial para a disseminação do cinema contemporâneo em nível global. No Brasil, muitos desses filmes noruegueses estão disponíveis em plataformas como Mubi, Prime Video e Reserva Imovision. No entanto, alguns títulos podem ser mais difíceis de encontrar, o que destaca a importância de iniciativas como o "Ponte Nórdica", um festival de cinema que busca promover o acesso à cultura cinematográfica escandinava no Brasil.
Filmes para conhecer o cinema norueguês contemporâneo
Pronto(a) para mergulhar nesse universo? Preparamos uma lista com filmes que vão te fazer refletir, sentir e, quem sabe, até se identificar com as complexidades da vida jovem de hoje. Eles abordam temas como autodescoberta, relacionamentos, crises existenciais e a busca por um lugar no mundo, mostrando como o cinema noruguês contemporâneo consegue expressar sentimentos internos da população jovem.
Começar de Novo (2006)
Título Original: Reprise
Erik e Philip, melhores amigos desde a infância, compartilham o sonho de se tornarem escritores. Quando enviam seus manuscritos para uma editora, seus caminhos se separam drasticamente: Philip alcança a fama rapidamente, enquanto Erik tem seu trabalho recusado, O filme explora como cada um lida com a fama e o fracasso, e os desafios que surgem em suas ambições e relacionamentos pessoais.
Esse é o primeiro filme da aclamada Trilogia de Oslo, uma série de obras dirigidas por Joachim Trier e coescritas com Eskil Vogt. O ator Anders Danielsen Lie, que interpreta Philip, é um rosto recorrente em todos os filmes da trilogia.
Disponibilidade: Não está disponível em plataformas de streaming atualmente no Brasil.
Oslo, 31 de Agosto (2011)
Título Original: Oslo, 31. august
Ambientado ao longo de um único dia, o filme acompanha Anders, um jovem em recuperação do vício em drogas, que recebe uma licença da clínica onde está internado para uma entrevista de emprego e para se reconectar com amigos e familiares em Oslo. Este dia se torna um período de profunda reflexão sobre sua vida, suas escolhas passadas e o incerto futuro.
Esse filme também faz parte da Trilogia de Oslo, de Joachim Trier. É um remake do clássico francês "Trinta Anos Esta Noite" (Le feu follet, 1963), de Louis Malle, adaptado para o contexto da capital norueguesa. O longa aborda de forma sensível e melancólica temas como vício, solidão e a busca por um novo começo. Anders Danielsen Lie retorna como protagonista, em um papel que aprofunda a complexidade da condição humana e a melancolia.
Disponibilidade: Não está disponível em plataformas de streaming atualmente no Brasil.
A Pior Pessoa do Mundo (2021)
Título Original: Verdens verste menneske
Julie está prestes a completar 30 anos e se encontra em uma verdadeira bagunça existencial. Ela muda de carreira várias vezes e se vê em um dilema amoroso, dividida entre Aksel, um escritor mais velho que busca estabilidade, e Eivind, um homem charmoso que ela conhece em uma festa. O filme é dividido em 12 capítulos, um prólogo e um epílogo, e acompanha a jornada de Julie em busca de si mesma e de seu lugar no mundo, explorando as incertezas que marcam a transição para a vida adulta.
Talvez o longa mais famoso da Trilogia de Oslo de Joachim Trier, e foi um sucesso de crítica internacional, recebendo duas indicações ao Oscar 2022 (Melhor Roteiro Original e Melhor Filme Estrangeiro). A atriz Renate Reinsve ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes por sua atuação.
O filme é um retrato muito fiel da crise dos vinte e poucos anos e da busca por autodescoberta em meio a incertezas sobre carreira e relacionamentos, o que o torna extremamente relevante para o público jovem. Anders Danielsen Lie também faz parte do elenco, conectando-se aos outros filmes da trilogia.
Disponibilidade: Disponível para aluguel/compra em plataformas digitais como Prime Video.
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Doente de Mim Mesma (2022)
Título Original: Syk pike
Signe e Thomas vivem um relacionamento competitivo e tóxico. Quando Thomas ganha fama como artista contemporâneo, Signe, movida pela inveja e por uma necessidade constante de atenção, cria um plano doentio e perverso para ser notada: ela se automedica para induzir lesões de pele inexplicáveis, transformando-se em uma "celebridade" com uma doença misteriosa. O filme é uma crítica afiada à cultura narcisista e à busca implacável por fama na era digital.
Dirigido por Kristoffer Borgli, o filme explora as absurdidades da era digital e a obsessão pela imagem e validação externa, questionando os limites éticos dessa busca. A protagonista, Signe, tenta preencher um vazio interno com atenção externa, um processo que a leva a ações autodestrutivas e inconsequentes. A obra convida à reflexão sobre o que realmente constitui uma vida interessante e valiosa em meio à busca por notoriedade a qualquer custo.
Disponibilidade: Disponível na Mubi.
Ninjababy (2021)
Título Original: Ninjababy
A vida de Rakel, uma ilustradora de 23 anos que adora sexo, drogas e RPGs, vira de cabeça para baixo quando ela descobre, tardiamente, que está grávida de seis meses. Com a interrupção da gravidez não sendo mais uma opção, Rakel decide dar o bebê para adoção. Acompanhando seu dilema, surge o "Ninjababy", um personagem animado que, vindo de seu caderno, a inferniza e a faz questionar suas escolhas e sua prontidão para a maternidade.
Dirigido por Yngvild Sve Flikke, o filme é baseado em uma graphic novel e incorpora animações criadas pela própria autora, Inga H Sætre, que dão voz ao subconsciente de Rakel. É uma comédia que mistura acidez e ternura, abordando o amadurecimento como um processo confuso e doloroso, mas que leva à resiliência e ao amor-próprio. É comparado a "Juno" (2007), mas com uma abordagem mais cáustica e politicamente incorreta, oferecendo uma perspectiva única sobre a gravidez inesperada e o crescimento forçado.
Disponibilidade: Disponível na Mubi.
A Hipnose (2023)
Título Original: Hypnosen
Vera e André, um casal, estão prestes a apresentar sua startup em uma competição importante. Pouco antes, Vera faz uma sessão de hipnoterapia para parar de fumar, mas o tratamento tem um efeito colateral inesperado: ela perde toda a inibição social. Isso transforma seu comportamento de interessante para inconveniente e, por fim, uma ameaça ao sucesso do projeto, enquanto André tenta desesperadamente manter tudo sob controle.
O filme é dirigido por Ernst De Geer e conta com Herbert Nordrum, o mesmo ator de "A Pior Pessoa do Mundo", no papel de André. A trama explora camadas mais profundas sobre relacionamentos modernos, expectativas sociais e a busca por uma vida autêntica. O filme sugere uma reflexão sobre uma "nova masculinidade" que se alinha com as necessidades femininas e a justiça de gênero, indicando um mundo onde os homens podem ser verdadeiros companheiros para as mulheres.
Disponibilidade: Disponível na Mubi.
Thelma (2017)
Título Original: Thelma
Thelma é uma jovem tímida que acaba de sair da casa dos pais, onde recebeu uma educação religiosa fundamentalista, para estudar em Oslo. Lá, ela vive seu primeiro amor, mas seu relacionamento é logo afetado pela intromissão familiar e por uma habilidade única e misteriosa que ela descobre possuir, que pode afetar a vida das pessoas ao seu redor.
Dirigido por Joachim Trier, esse filme, embora também ambientado em Oslo e com temas de "outsider", não é considerado parte da Trilogia de Oslo pelos cineastas. Ele se aprofunda em temas de sexualidade, repressão religiosa e poderes sobrenaturais, misturando drama, mistério e romance de uma forma envolvente. O filme alcançou um grande sucesso internacional, sendo vendido para mais de cinquenta países.
Disponibilidade: Disponível no Prime Video.
Sex (2024)
Título Original: Sex
Este filme acompanha dois colegas de trabalho de meia-idade, ambos em casamentos heterossexuais, que, após experiências recentes e inusitadas, começam a questionar suas sexualidades e identidades. Um deles tem uma experiência homossexual casual, enquanto o outro sonha com uma figura erótica inspirada em David Bowie e se vê como mulher em seus sonhos. O filme explora com sutileza e ótimos diálogos as complexidades do desejo e da identidade.
“Sex” o primeiro filme da trilogia “Sex, Love, Dreams”, de Dag Johan Haugerud, um diretor que tem se destacado no cinema nórdico por sua abordagem única. O filme foi premiado no Festival de Berlim. A trilogia explora a intimidade e as fronteiras porosas entre sexo, amor e amizade, e os filmes podem ser vistos de forma autônoma, sem uma ordem específica. Haugerud frequentemente escreve de uma perspectiva queer, explorando as sexualidades diversas e as complexidades das relações humanas.
Disponibilidade: Disponível no Reserva Imovision.
Love (2024)
Título Original: Kjærlighet
"Love" explora a busca por intimidade e as complexidades das conexões humanas através de Marianne, uma médica pragmática, e Tor, um enfermeiro compassivo. Ambos evitam relacionamentos convencionais e se encontram em uma barca, onde Tor compartilha sua abordagem "laissez-faire" sobre amor e sexo casual. Marianne se pergunta se essa filosofia poderia funcionar para ela, enquanto a trama também aborda a vida de pacientes com câncer e outras relações complexas, oferecendo uma visão realista das escolhas e desafios da vida adulta.
É o segundo filme da trilogia “Sex, Love, Dreams” de Dag Johan Haugerud. O filme foi selecionado para importantes eventos como o Festival de Veneza e o Festival de Cinema de Mumbai em 2024. A crítica elogiou sua complexidade de sentimentos e a forma como os personagens navegam suas liberdades, destacando a abordagem não-normativa do diretor sobre a intimidade e o desejo.
Disponibilidade: Disponível no Reserva Imovision.
Dreams (2024)
Título Original: Dreams
Johanne, uma garota de quinze anos, experimenta um despertar sexual inesperado ao se apaixonar por sua professora. Para processar a intensidade dessa paixão, ela traduz seus sentimentos em palavras, preenchendo as páginas de seu diário. Quando sua mãe e avó descobrem o texto, elas o veem como uma obra digna de publicação, revelando a força da expressão artística e a complexidade do primeiro amor.
Dreams encerra a trilogia “Sex, Love, Dreams” de Dag Johan Haugerud, e foi um dos grandes vencedores do Festival de Berlim, recebendo o Urso de Ouro e o Prêmio Fipresci. O filme aborda a sexualidade emergente e o primeiro amor de uma perspectiva sensível e não-julgadora, oferecendo uma visão profunda sobre a formação da identidade na adolescência.
Disponibilidade: Não está disponível em plataformas de streaming atualmente no Brasil.
Onde assistir aos filmes do cinema norueguês contemporâneo?
Viu só como o cinema norueguês contemporâneo é um prato cheio para quem busca filmes que te fazem pensar e sentir? De crises existenciais a dilemas de identidade e relacionamentos, esses filmes nos mostram que a Noruega está mandando muito bem em contar histórias que conversam com a gente, não importa onde estejamos no mundo.
A qualidade das produções e a universalidade dos temas abordados fazem do cinema nórdico uma área rica para explorar e se conectar com narrativas que refletem as complexidades da vida moderna.
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